Tuesday, April 19, 2005

Hora de ponta na ponte em ponto de rebuçado!

Eu confesso que alucinei!! Aliás, eu alucino muitas vezes, para bem da minha saúde mental, que isto de viver no mundo real, às vezes, só faz mal à saúde e uma pessoa não se pode enervar se quiser soprar as cem velas!! Sim, que eu pretendo viver até aos cem...duvido é que haja alguém que me queira viva tanto tempo!! Mas enfim, eu sou do bom tempo e hei de durar que nem uma erva daninha!! Nem que tenha que arranjar uma placa com os dizeres: Proíbido Arrancar!
Mas voltando à vaca fria e falando em arrancar, aquela ponte 25 de Abril está que nem se pode! Uma pessoa vem pacatamente do Algarve, madrugada fora, vendo o sol nascer em Espanha...até aqui o sol nasce mais tarde!! e com uma músiquita a tamborilar no tímpano vai-se entrando na paisagem bucólica que é o alentejo a amanhecer na bruma , mas desta feita sem gorilas, e quando se chega ali a Palmela vai de pôr o sapato no travão porque já há fila para Lisboa!! Valha-me deus!! Eram dez para as sete da manhã. Uma pessoa nem tem tempo de sintonizar o cérebro do bucólico ao selvático automóbilis em filita protuberante! Não!! Comigo não violão!
E depois não é só isso! Uma pessoa está ali entalada entre uma carrinha de caixa aberta e o espadalhão da empresa alheia, no seu humilde carrito, e quando olha em volta está tudo ao volante com cara de photomaton! Isto no tempo em que uma photomaton era uma photomaton e o que era, ficava! Não havia cá escolhas se gosta assim ou assado! Isso não!!
Metro a metro lá se vislumbra a ponte em estado superlotado, qual LIDL em dia de promoção, e Cristo rei, do alto do morro de cimento a ver o povo a passar(-se)! Uma fila de 25km e 3/4 com a via verde de tal forma obstruída que quem fica verde somos nós! Uma dose de laxante naquela via verde é que era, para desobstruír! Os master cards do passe da ponte lá iam roda ante roda e os da nota, moeda ou multibanco também se acotovelavam de parachoque suave na cauda do da frente e salve-se quem puder! Se eu fosse Cristo (por acaso ainda bem que não sou, porque prefiro o meu título de Viscondessa, mesmo que o burgo não seja grande coisa), e estivesse no alto do morro de cimento a ver este fandango, esta chula sem filigrana, eu também não cruzava os braços. Não se pode cruzar os braços perante isto, isso é que era doce!!
E as baias?! Amarelinhas!! O povo não se orienta, tem que ser ensinado por tracejado em tom de alinhavo, que primeiro passa um e depois o outro, e mesmo assim buzinam como se não houvesse amanhã! Eu até posso adiantar que é provável que haja amanhã, na certeza porém, se continuarem a buzinar dessa maneira selvática logo de manhã no tímpano do parceiro, o vosso amanhã vai ser no mundo do silêncio, que essa membrana estoira-vos que é um mimo!! Voltando à baia, que é o que separa as cavalgaduras nas cavalariças, parece a estrada de tijolo amarelo do Feiticeiro de Oz...mas eu confesso que sinto falta do sapatinho vermelhusco e da música...sim, que homens de lata, leões trombalazanas e espantalhos é o que há mais ali em volta. Não há glamour em lado nenhum! Já não se vai sorridente para o trabalho! Ninguém leva a alegria da pequena Tatão, a correr Lisboa fora, a caminho da Perfumaria da Moda...que também só lhe resta a fachada, mas de mal o menos. Vão-se os anéis, ficam os dedos!
É claro que uma pessoa chega a Lisboa mais melada que melão a derreter ao sol. O tempo que se leva é tanto ou tão pouco que as costas foram agrafadas ao banco na supressão da berma! Uma pessoa chega em ponto de rebuçado! Mas também podia chegar em ponto pérola ou fio de cabelo...ou pelos cabelos em ponto estrada. Uma coisa é certa...viver do outro lado da ponte e trabalhar de manhã, não! Comigo não!!
Acenos da varanda central,
Viscondessa da Porcalhota

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ai minha rica menina que o seu paizinho lê um hei de sem ífen vai haver sarilho, ora se vai... o que vale é que a esta hora ele deve estar a meditar, sim, ele não dorme, medita...tão engraçado, benza-o Deus! E essas viagens durante a madrugada por essas estradas fora, que apesar de a minha rica menina ser uma boa condutora me deixam sempre com um- não-sei-quê aqui no gorgomilo. Pois a menina teima em vir pela ponte de sua excelência em vez de vir pela outra e isso de estar sempre a dizer violão, ora, ora, então não se lembra que era rabecão? Sim, o bisavô de sua senhoria tocava rabecão, e muito bem, apesar de me dar cabo das oivideiras. Isso do rabecão e do queixinho de rabeca são coisas que me vêm à lembradura, agora que estou a caminho do Cristo Rei que está em toda a parte e não aquele que está na outra banda, e lá não haverá baias amarelinhas nem de outras cores, porque essas estão destinadas ao gado e aos miúdos a quem se diz "tenho que te meter nas baias". Olhe minha rica menina, veja lá se consegue ver-me aqui na varanda dos fundos a acenar com a vassoura, porque se faz tarde e tenho que tratar do seu almoço, um almocinho que aconchegue esse corpinho enfezado e que acalme essa imaginação tão fértil. Ai a minha rica menina é tão engraçada......ponto de pérola, ponto de cabelo, ovos mexidos com doce de uma coisa que não digo que até me dá arrepios.

3:35 AM  
Blogger Inês Ramos said...

Salvé Viscondessa! Que deliciosa profusão de cultura urbano-cinéfila! Adorei a expressão (sic) "selvático automóbilis em filita protuberante"! Está mesmo bem esgalhada!Bravo, bravíssimo!
O que faltava ali era o Sr. Agt. Simões para passar multas àquela gente toda! Lol!

10:20 PM  

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