Friday, December 09, 2005

O Metro das Emoções

Darlings da minha vida, o metro em NYC é uma espécie de Índia super populada de gente que sobe e desce pela direita, que cospe para o chão, que não se atreve a acender um cigarro, que segura as portas a quem corre atrasado... é um mar de personagens, de gente diferente, tão diferente! Irra que é uma lavagem para o globo ocular!!! É um esgoto onde as baratas se arrastam de carril em carril, onde a água corre e os anúncios nos falam dos credênciados que assinam as folhas de serviço, garantindo-nos que estamos seguros, que andar de metro é a melhor opção.
É no meio deste caos semi ordenado, entre cores humanas que desfilam nos mais variados tamanhos e onde o bafo escaldante do aquecedor central nos faz despir o carrego que nos cobre do frio de neve lá fora, que encontramos o chinês que toca Zheng (Harpa de colo) e cantarola numa pobre voz..ali mesmo na 2nd Ave, ele enrola-nos os ouvidos no dedilhar enquanto a gare se apinha de centenas de formigas à espera do combóio do nunca, atrasado, decrépito e mal cheiroso.
Na entrada de cada combóio há sempre a certeza de uma lírica, de um mexicano de guitarra em punho e siga lo Ciellito Lindo, da cadeira de rodas que arrasta o ex combatente que arranha com uma corda gasta e um abanão de lata com dois tostões furados, um ritmo triste de algo que se assemelha a uma canção que nunca soube cantar. O miúdo do RAP entra e abafa, dá mortais entre varões no ritmo do tijolo, grotesco, brilhante, divino! E as portas abrem-se na cantilena daquela mulher que grita a ira terrena e o castigo divino em frases feitas no mundo dela, cortantes, cruéis, loucas, no limbo entre o que não sabemos e o que nunca saberemos.
Abrem-se as portas e ali mesmo, na 49/50 st com a 6th Ave, todas as tardes, todas as noites, toca um violino de duas cordas...miraculoso, um espanto de sentidos, um deslumbre, um travão que se puxa na pressa tresloucada das formigas.
Estes momentos e outros, são um presente que tive, um presente de nada, nada é o espaço que se preenche de memórias, de sons, de imagens...
Meu partilhante de casa, esbarrou com um mendigo entre flautas e violinos... ele gritava com as pessoas..What's up? Porque é que não sorriem? Olhou-o nos olhos, desafiou-o esquecendo a música e gritou-lhe nas ventas!!! PORQUE NÃO SORRIS?!! Confrontado sorriu. Andrajoso o homem seguiu dizendo-lhe que as coisas boas estavam por todo o lado e que valia a pena sorrir apenas pela graça de estar vivo.
The Gift Of Nothing...e o nada é tudo!
Como diria, cantaria, o Básco Képa Junkera, é uma méscla de chuva numa manhã de sol...
Acenos da Varanda Central,
Viscondessa da Porcalhota

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

É um sol, o meu sol derramando-se sobre quem fica de lágrimas nos olhos e um nó na garganta ao ler cada linha, cada pedaço de alma estampada aqui...

1:41 PM  
Blogger Alien said...

ora pois que vou para a cama mais "quentinha" depois de ler isto =)
bjs

6:05 PM  
Anonymous Anonymous said...

:)











(um puoco de nada pa tu)

12:54 AM  
Anonymous Anonymous said...

é a historia de uns olhos de fora que aos poucos se fazem donos de um espaço sem dono que pertençe a quem dele se aprisionar. fazes de ti uma nova velha iorquina. amas a city com o sorriso da primeira vez... que ele te acompanhe para sempre.
bjo. até já, depois do chá.

1:37 PM  
Blogger Inês Ramos said...

Querida Carlota,

"New York
Like a scene from all those movies
But you're real enough to me
There's a heart
A heart that lives in New York

A heart in New York, a rose on the street
I write my song to that city heartbeat
A heart in New York, the love in her eyes
An open door and a friend for the night

New York
You've got money on your mind
And my words don't make a dime's worth of difference
So here's to you New York"

Art Garfunkel - A Heart in New York
(excerto)

...E finalmente, como se me caíssem no colo as últimas peças de um puzzle incompleto, as tuas palavras redimensionam o meu conhecimento empírico e por fim as letras das canções do Paul Simon e do Art Garfunkel ganham um novo brilho e uma nova luz.

Quem me dera estar aí contigo a mordiscar essa grande maçã agridoce que tal como a da história da "Branca de Neve" tanto envenena como faz sonhar.

4:14 AM  

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