Saturday, January 21, 2006

No Escurinho do Cinema...


..comendo hamburgueres e tacos, entra gente e sai gente como se fosse uma feira popular! Não rima, que não rima, mas ilustra o corrupio que vai nestas salas de cinema americanas sem tirar nem pôr! Já para não falar da barulheira adjacente, que é o sorver em som amplificado o refrigerante, o rugido da pipoca estaladiça com cheiro de manteiga quente, os telemóveis que tocam sem parar, as chamadas que se fazem durante o filme e que transformam o ambiente numa espécie de central telefónica, e claro... os comentários para o écran! Sim, que o que é preciso é dizer à miúda do écran que ela fica melhor sem saia, não vá ela mudar de ideias se não ouvir o comentário! Teodoro não vás ao sonoro!
O que vale é que depressa se fartam e ao fim de cinco minutos de um filme sem efeitos especiais, sem senhores a arrancarem olhos uns aos outros e sem sangue à vista, começam a bufar e acabam por se levantar e ir embora deixando a sala quase vazia!
E foi assim nos solavancos da aventura que é assistir a um filme em NY, que me deliciei com Good Night and Good Luck, Caché, Capote e Walk the Line. Todos estes filmes falam de pessoas, como elas são...frágeis, corajosas, cobardes, medíocres, sozinhas, felizes, cheias de defeitos e qualidades, bonitas, irreverentes, grandiosas, simples, deslocadas, acostumadas... tantas e todas as coisas que somos num só, como um espelho refractado, imagens de imagens de imagens de imagens que guardamos com ou sem sentido, que nos fazem perceber que ali nos encontramos connosco... de uma forma ou de outra, presos a um écran que nos abre o pensamento e nos deixa a voar. David Strathairn, Daniel Auteuil, Philip Seymour Hoffman e Joaquin Phoenix, respectivamente, têm um trabalho que nos chega como um presente. Depois lembrei-me de Alice, uma produção nacional que não fica nada atrás de todos os que vi esta semana, onde quase em absoluto silêncio, numa ausência desoladora, se conta uma história igual a tantas outras numa realização de Marco Martins, mergulhada num nevoeiro azul. Nuno Lopes, tão à altura de qualquer dos actores acima mencionados, num trabalho que é, definitivamente, um presente feliz.
Vão ao cinema e deixem-se levar... há histórias que valem a pena que desliguemos do mundo.
Acenos da Varanda Central,
Viscondessa da Porcalhota

17 Comments:

Blogger Nuno Zeppo said...

Bravo, Querida Viscondessa e Senhora Minha Irmã!...
Tal como no fim de um grande espectáculo, os cães ladram e a caravana passa. Onde é que está aquela paixão pelo teatro, que alimentava uma energia tão enternecedora e familiar?...E onde é que está a sensibilidade das pessoas pelo fabuloso trabalho de todos os actores que nos transportam até aos limiares da nossa limitada percepção da perfeição e dos defeitos humanos?...Desde quando é que este mundo consumista e frio se tornou a regra e não a excepção?...E porque é que as expectativas são sempre para mais quantidade, e não para melhor qualidade?...
Será que está tudo perdido, incluíndo o respeito?...
Como é que se pode ensinar uma cultura a distinguir entre liberdade de expressão e diarreia de confusão?...
Ai, as saudades que eu tenho das minhas férias de repouso lá na Quinta do Farnel!...
Obrigado por trazer até nós tão distintos assuntos!
Abraços cordiais e beijinhos calorosos!
Do vosso sempre,
Conde de Burriés de Cima

9:07 PM  
Anonymous Anonymous said...

Eu cá gostei do Match Point!

Foi uma Sorte te-lo visto... ;)

2:51 PM  
Blogger Nuno Zeppo said...

Querida Viscondessa e Senhora Irmã do Meu Irmão, há muito que que espero oportunidade por lhe mostrar o meu apreço pelos belos textos com que nos brinda e que me fazem lamentar a distancia a que V. Alteza se encontra.
Não posso, no entanto, coibir-me de lhe pedir que deixe de usar umas cores no texto que tanto me dificultam a leitura.

Vénias e respeitosas saudações

10:33 AM  
Blogger Viscondessa da Porcalhota said...

Meu darling Conde de Burriés de Baixo! Bons ventos o tragam, melhores olhos o vejam! E já que falamos em ver, pois dizei-me tudo sobre as cores que lhe eriçam a pupila. Eu tenho sempre cuidado na escolha das cores exactamente por isso, e as cores dos textos também não são escolhidas ao acaso...fazem um sentido aqui dentro desta cabeça oca, que é a minha, mas é provável que algumas se tornem mais agressivas à leitura. Se me puder orientar, agradeço-lhe. Sirvo-lhe um chá de gengibre e limão com um toque de canela e umas bolachinhas de manteiga e o Conde serve-me cores! Que me diz?

Alvíssaras, alvíssaras!! Agora que deu o ar de sua graça espero trocar umas garfadas consigo de quando em vez!!

Acenos da Varanda Central,
Viscondessa da Porcalhota

9:37 PM  
Blogger Alien said...

Vi o Match Point ante-ontem... gostei =) acho que se começa a tornar um hábito gostar mais dos filmes do Woody Allen em que ele não entra ;) o meu preferido continua a ser o Radio Days ihihihih

Mas o moço é bom escrevinholas, oh se o é!

Acenos da secretária lateral esquerda em que me encontro

9:13 AM  
Blogger Alien said...

Já agora... Isso dos tacos e hamburguesas? Também já acontece por cá... No Alvaláxia, fui eu um dia comprar um baldinho envergonhado de pipocas para matar o vício e para me acompanhar na sessão da tarde... e à minha frente um senhor compra a bela da Fanta Gigante e nachos com molho! E lá foi ele, a segurar o bilhete na boca ver algo leve como o Million Dollar Baby...

E corropios de gente, com lasers no ecrã, chamadas de telemóvel, jogos de GameBoy e pessoas a falarem com FILAS de distância, é no Colombo. Ou era! Desde essa sessão nunca mais lá fui =)

Acenos da mesma secretária em que me encontro, hopping for the best para quem acena da Varanda Central

9:19 AM  
Blogger Nuno Zeppo said...

Ainda no contexto destas animadas excursões ao cinema, e para ir só um pouco mais além do que me contam, deixem-me dizer-lhes que em algumas dessas salas de exibição, que era o que se chamava dantes, agora já nem sequer apagam as luzes completamente, só para aqueles clientes especiais (ou serão espaciais?...) que continuam a transportar o escritório para a sala do cinema, e necessitam de tomar notas enquanto se encontram a falar no telemóvel. A presença constante da luz, durante o filme, também permite notar quando os infindáveis molhos dos tacos e das batatas fritas escorrem pelos queixos gordurosos e pingam na camisa, na blusa, na gravata, ou pior!
Hoje em dia, suspeito que haja muita gente que vai ao cinema só para comer pipocas, ou pizza quente. Não tarda nada temos para aí nos jornais algum resultado de um fabuloso estudo feito por meia dúzia de cientista, que gastaram alguns milhões no projecto de investigação, a dizer que ir ao cinema engorda!
A partir de agora vou começar só a ver filmes em casa, em vídeo ou DVD, e sempre posso comer um Bacalhau á Gomes Sá, ou um Bitoque, acompanhado por um valente copo de vinho que ninguém me pode dizer nada!
Este desenvolvimento socio-cultural é incrível...
Abraços das Nobres Cozinhas

4:29 PM  
Anonymous Anonymous said...

Graças a deus (com letra pequena porque o meu é um deus bem menor), no meu tempo de escudeiro, ir ao cinema era bem melhor e mais parecido com aquele onde ia a Mariazinha no "Domingo à Tarde" do Manuel da Fonseca, que nada tem a ver com o do Fernando Namora.
A gente ia ao cinema para fazer marmelada da grossa e ai de quem desembrulhasse um caramelo durante a fita! O barulho seria intolerável...

8:03 AM  
Anonymous Anonymous said...

Ó D.Marta, eu ofereço-me já para participar no projeto piloto!... E se puserem lá uns chuveiros, até faço uma assinatura anual!...Estava aqui a pensar,...até se podia pôr uma musica ambiente nesses seus quartinho de cinema, não acha?...

8:34 PM  
Anonymous Anonymous said...

Tem razão a Senhora Dona Marta, Duquesa da Reboleira!
Deixe-me contar-lhe a minha experiência com essas salas, quando aqui foram inauguradas nestas gélidas paragens. Estava este seu criado a trabalhar como escriba para o Pergaminho local, e vai daí foi à abertura de uma dessas salinhas com 24 poltronas, hospedeiras, paparoca, etc... Convidado de honra? Nem mais nem menos que o Peregrino do Novo Mundo, D. Robert Duvall, aquele que gostava de cheiro a napalm para o pequeno-almoço, se Vossa Excelência se recorda do "Apocalipse, então". O vosso escriba, depois de recolher a entrevista e tirar as iluminuras, sentou-se na tal salinha. A meio do filme, sentiu ou gorgolejar no peito e, temeroso de alguma sulipanta às escuras, levantou-se cambaleante e murmurou à porta a uma das minisaiadas hospedeiras: "-Não me estou a sentir bem, quererá a Minha Donzela chamar uma carroça que me leve à Ordem Hospitalar mais cercana?" Eis que a mal-treinada donzela desata aos gritos: "Estais com um ataque cardíaco, estais com um ataque cardíaco!" Não estava. Mas antes de perder a consciência, ainda recordo ver as luzes da sala a jorrarem e o pano branco sem imagens. Daís, nunca mais colocarei os meus pés em tal baiúca. Imagine, a Senhora Duquesa que era outra pessoa a passar pela minha aflição e eu estar na sala numa posição inconveniente com uma donzela própria. Já viu o desplante? É que ao ver arder as barbas de outrém há que humidificar as nossas...

11:14 AM  
Blogger Alien said...

Se conseguirmos instalar uma sala com passadeiras e bicicletas atingimos TODOS os públicos e temos futuro. O melhor era roubar um ecrã do Monumental e estrear o próximo filme no Holmes Place da 5 de Outubro.... não? =)

Sou sócia à disposição! (embora deva avisar que ainda vou ao cinema para ver aquele pano grande e liso onde passeiam aquelas pessoas... ai, como se chama... actores? Sim... é isso...)

2:53 PM  
Blogger Alien said...

após demorada pesquisa intelectual, penso ter chegado a uma conclusão: é fiozinhos.... ou então é "um conjunto de cordões pequenos". Segue o exemplo, em baixo

"vou puxar um conjunto de pequenos cordões e vais ver se não consigo abrir o estabelecimento"

Vi um estabelecimento que nos pode fazer frente (mas este existe mesmo que eu tirei uma foto): é um ginásio-massagens-fitness-pronto a comer.

1:10 PM  
Anonymous Anonymous said...

Senhores

Desculpas pela intromissão, mas tenho acompanhado o árduo estudo preliminar de possibilidades para a criação dessa sociedade para as salas de exibição futuristas e me parece que o melhor a ser feito e que poderá atender a todas essas exigências e possibilidades, é a criação do velho e conhecido cinema estacionamento. Nele, todos os produtos comestíveis e todas as mais estranhas traquitanas, poderão ser levadas pelos que pretendem assistir a exibição da película e ou ainda, pedir aos donos das barraquinhas de alimentos dispostas ao redor dos muros da telona, que lhes sirvam pelas janelinhas de seus carros. O funcionameto dessas salas de exibição, todos conhecem e a multipicidade de utilidades delas, também, lembrando aqui que o recurso motel incluso, poderá ser descartado, pois já existe o carro. Então, acredito que todos os seus problemas estarão resolvidos. Bastará que tomem o cuidado de fornecer na entrada do estacionamento, juntamente com os autofalantes de ouvido e os luminosos para os pedidos de refeições, muitos preservativos e saquinhos de lixo para a higiene do estabelecimento.

Sucesso na aquisição do terreno.
Consultores Associados S/A

3:14 PM  
Anonymous Anonymous said...

Para a pessoa que solicitou auxílio para a escrita correta da palavra CORDÕES presto aqui tal auxílio:

O correto é dizer cordõezinhos!!!

Se há muitos cordões e eles serão ditos no diminutivo, então devemos escrever cordõezinhos...

3:21 PM  
Blogger Nuno Zeppo said...

Agora é que vão ser elas!...
Eu estava mortinho por ver umas destas acontecer!...cordãozinhos e cordõezinhos...
Tenho de dizer que gostei da ideia da Alien, gostei sim senhor!...fiozinhos ainda é o melhor, mas vamos lá a saber…
Se temos um botão, um balão, um corrimão, um feijão, um garrafão, um pão e um capitão, então será que o plural de botão é botãos?...ou será botães?...sim, porque também se diz capitães, e não capitões, mas depois também temos a questão dos balães, ou serão balãos?...Ás tantas é balões, o que pode dizer que afinal os botães sejam botões, e os pães sejam pões, a não ser que sejam pãos!...Com esta confusão toda já estou tonto, e o melhor é agarrar-me aos corrimão...não, espera, acho que é mais do que um (ai o vinho!…), e então são corrimães!...mas se os botões não são botãos, então talvez os corrimãos sejam corrimões, e com isto pássa-se o tempo e vem o S. João, que há só um, valha-nos ao menos isso, e por isso não temos cá Joães nem Joões, se houvesse mais seriam Joãos, mas não há, graças a deus!...E então é assim que o João nos trás um balão, ou dois balães, quero dizer, dois balões!...Espera lá, então se é balões e pões, desculpem, quiz dizer pães, ou será mesmo pãos?...Ai que confusão, ou confusãos, que isto agora está a ficar muito mais complicado do que eu pensava, e eu que detesto confusões!...
Recapitulemos, então, que eu, assim aboto-o os meus botões, o balão leva o S. João, para o juntar aos outros balões, e eu, com a brincadeira, seguro-me ao corrimão, que já não sei se é só um, ou se é a minha vista que me engana e me faz ver dois corrimões!...Ainda dou um trambolhão, ou uns trambolhões, dependendo do vinho que já bebi nesta noite de S. João, que não sei se bebemos de garrafa ou de garrafão, mas dizem as más línguas que já bebemos demais e que foram dois garrafões, e era tinto carrascão!...
Depois do vinho e dos trambolhões, o melhor é parar nesta tasca e comer um prato de sopa de feijão, ou uma pratada de feijões com arroz, para ensopar o tintól...
E depois, o melhor é sair de mansinho, do meio desta confusão, ou serão confusões?...Não venha ainda aí a polícia, com os seus capitães, que não são decerto rufiões com quem se meta gente séria, e ála daqui para a Avenida de Roma, que a esta hora já o cheirinho sai dos fornos da padaria, e podemos nós curar a ressaca com um pão quente, um mesmo um saco de pães, para ensopar mais a vinhaça que se bebeu nas últimas horas!...E cuidado para não caírem!… Abotõem esses atacadores, ou cordõezinhos dos sapatos, e pirem-se daqui para fora, que já amanhece, e são quase horas de ir outra vez trabalhar!...
Este vosso admirador,
Conde de Burriés de Cima

8:19 PM  
Anonymous Anonymous said...

Ó Senhora D. Marta, faça-me um favor e não me mencione nada que tenha a palavra Alvalade incluída, nem que seja Alvaláxia!!!
Eu esta semana não quero ouvir falar de nada que seja verde, alagartado, leonino ou de riscas verdes e brancas.
Do Liedson muito menos!
Poupem-me, porra, que três a um doi que se farta...

1:10 AM  
Blogger Nuno Zeppo said...

Querida Viscondessa, peço-lhe que me perdoe a demora das respostas mas cá nas terras de baixo, este internético e infernal sistema é ainda muito rudimentar. queira saber que estou redigindo há já três dias sem parar só para fazer chegar até si estas humildes palavras. Respondendo agora à questão que tão delicadamente me pões, confesso que a cor que melhor leitura permite é o branco e a que mais dificuldade me causa é o roxo.
De resto, falta-me só acrescentar que há muito que apenas vou aos salões de projecção do Paulo Branco, onde o consumo de qq acepipe é expressamente proíbido, assim como ter os tlms ligados. Felizmente ainda há salas de cinema para quem gosta de cinema.
Cordiais saudações e beijos repenicados

3:11 AM  

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