Thursday, May 12, 2005

Só neste país...

2600 Sobreiros à viola, seis anos para dar início a um julgamento por alegada negligência médica, 21 mil euros angariados por colegas do polícia morto... e depois deste país em estado de sítio ainda nos vêm dizer que temos que trabalhar 135 dias por ano para pagar impostos!!!
Vamos lá a ver se nos entendemos!! Isto é tudo muito moderno. No meu tempo traficafava-se droga!! Quais influências qual carapuça?! Nobre Guedes e companhia limitada...ou será ilimitada??, darlings da influência traficada, não se preocupem, que ainda ontem um senhor, que vive perto da herdade decapitada, dizia muito cheio de si, que não achava que fosse caso para tanto, porque a zona precisa de evolução e não é uma árvore a mais ou a menos que faz a diferença! Mais dois mil e seiscentos sobreiros, menos dois mil e seiscentos sobreiros é indiferente! A propósito... não acham que a população mundial está a aumentar?? Somos tantos a queimar ozono! Não seria melhor...não faz diferença, pois não?? Precisamos de espaço e menos poluição, não é um ser humano a mais ou a menos!!! Que me diz??
É pena que este não seja o tempo em que os animais falavam!! La Fontaine querido!! É desses animais que falo, não dos que hoje têm voz! É uma pena que as árvores não falem, que não se reúnam com o sindicato e não mandem deitar abaixo estas criaturas que sofrem de algum sídrome de exterminação aguda!
Extermina... digam-me que não é um belo nome para um médico! Quase ao nível de um Boa Morte! Onde está a época simples dos Pereiras e Oliveiras (sem Salazar!!)? Então doutor... eu por acaso sei muito bem o desespero que é estar de fora e começar a pensar que sabemos mais que os médicos. Enfim, os nossos doctors irritam-se muito porque os doentes quando lhes chegam já fizeram auto diagnóstico, e já estão a tomar a cápsula maravilha que a filha da nora da irmã do marido da filha da vizinha toma, e que lhes faz muito bem!! Miúdos da bata branca, da bata verde, da bata azul... tenham paciência e percebam que o país em que vivemos ainda tem uma falta grande de informação! Mas entendam também que se uma pessoa se queixa de algum mal e tem outras coisas graves na sua ficha clínica e até pode não dizer, é a vossa obrigação analisar, diagnosticar, perceber!
A pessoa tem uma dôr de cabeça...claro que pode não ser nada, na maioria das vezes nem é! As urgências estão lotadas, os médicos têm muito pouca sensibilidade e alguns só têm boas notas, o que todos sabemos não fazer um bom médico. Não têm pessoal auxiliar, não têm enfermeiros, não têm material, não têm nada! Pois é! Mas é esta a nossa realidade, seus estetoscópios ambulantes! Não descurem a vossa arte só porque andam irritados! Isto não é própriamente o escritório onde tudo falha e com a raiva arquivamos o processo e quem vier atrás que se lixe! Não é como atirar a caixa dos agrafos ao chão! São pessoas!! Lembram-se?? Acidentes acontecem...pois acontecem! Mas com pessoas nas mãos temos que fazer com que eles não aconteçam! Se rebentar não se pode mandar vir outra igual da loja!
E seus justiceiros de trazer por casa!... Que demora é esta para se começar um julgamento?? E se o doctor em questão nem tiver culpa? Se fez tudo o que estava ao seu alcance e a hemorragia cerebral da senhora em questão não foi possível de diagnosticar?? Fica um profissional em suspenso, qual aranhiço na ponta da teia, à espera de Godot?! E se for culpado.. senhores batinas negras? Seis anos é muito tempo... muitos dias muitas horas a operar! Uma pessoa quando for julgada já está protegida por alegados distúrbios mentais! Por favor não matem a malta nos hospitais, aquilo já é mau assim mesmo..e quanto à justiça neste país, será que não lhe podem dar com um desfibrilhador?? Electrochoque forever!
Em choque está esta situação policial que nem de farda de bota de cano alto impõe respeito! O que me enerva é que se fosse um concerto de Cure (sim, estou velha!!), como a malta se veste toda de preto e se maquilha com umas tintas estranhas, mobilizavam toda a polícia de choque... é que uma pessoa de cabelos em pé traz sempre uma bazuca na carteira! Mas como é para a Cova da Moura, deixai passear os lolitos de 30 anos, em VW dos novos e de janela aberta para apanhar ar! Ora, francamente! Ainda vão os colegas fazer peditório nacional para ajudar uma mãe que ficou sem um filho! Era um saco de plástico do continente a asfixiar este Estado português! Não haverá umas moeditas nos cofres do Estado?? Não se poderão disponibilizar meios para amparar de alguma forma as famílias de quem morre em serviço do Estado? Podiam começar por assegurar que não se vai morrer aos 33 anos de idade! Ensinar que não se passeia de janela aberta na Cova da Moura, especialmente se se for polícia! É que caso não saibam, a polícia naquela zona têm o efeito do pólen...causa imensa alergia! Protejam os miúdos, para que eles nos protejam a nós!
Quanto aos 135 dias de trabalho só para pagar impostos... comentários para quê?? O povo só tem o que merece! Organizem-se!
Acenos da varanda central,
Viscondessa da Porcalhota





Monday, May 09, 2005

Desde pequenina...

Desde pequenina que tenho muito jeito para dar injecções e operar! Todos se riam muito lá em casa, quando eu esventrava os bonecos para lhes fazer transplante de orgãos. Uma vez até consegui mudar os olhos da barbie para o sapo cocas, porque ele estava cheio de cataratas e ía ficar ceguinho. Os meus pais depois deram-me logo um estojo médico que tinha um estetoscópio e tudo! Agora concorri a um casting para neurocirurgia, porque o meu sonho era fazer uma grande operação ao cérebro com o Dr. Lobo Antunes... há mais candidatos, a concorrência é muita, mas espero conseguir....este concurso, fechada numa betoneira com mais duas vigas de betão armado, é uma grande oportunidade, porque a neurocirurgia é o sonho da minha vida desde pequenina.
Meus darlings, meus darlings, não se espantem com tanto disparate, porque é exactamente isto que acontece na classe artística deste Portugal dos Pequeninos! Os horizontes fecham-se a uma velocidade estonteante, como se à volta das nossas fronteiras existissem duas palas gigantes, maiores que as do Master Sisa no Pavilhão de Portugal, e científicamente testadas em burros!!!
Irra que é demais!!
Não se pode! Não se aguentam mais estes cromos novelísticos, estes monstros da figuração nacional, em nota de rodapé com barra vermelha a dizer: Actor!!
Estamos entregues aos bichos, ao terceiro mundismo da revista cor de rosa e da novela mexicana em ponto de ebulição!
No outro dia passei pela RTP Memória e esbarrei com a Vila Faia. Tempos depois esbarrei com as Origens e de seguida com Chuva na Areia já em final de sessão, com o Caniço perdendo as partes baixas e Guidinha do papá correndo vestida de noiva praia fora! Ora, meus amigos... se conseguiam fazer aquilo bem, porque é que fazem mal?? Se os meios técnicos de há vinte anos atrás davam para não queimar a imagem e para se fazerem planos sem vêr os câmaras e os boys das girafas reflectidos em tudo quanto é vidro do cenário de estúdio ou exteriores, porque é que agora, já que não fazem melhor apesar da evolução tecnológica, não fazem pelo menos igual???!!!
Já nem falo na qualidade do enredo, porque novela é novela, só mudam os nomes!! Mas os diálogos podiam ser um bocadinho menos disparatados!! E mesmo disparatados que fossem, isto é tanta coisa junta que já se vão desculpando umas em prol das outras, não acham que tinha alguma graça perceber-se o que estes monstros da representação nacional dizem?? Talvez abrir a boquita para que as palavritas saiam!! Talvez seja interessante, já que a nota de rodapé e as revistas cor de rosa vos elevam ao estatuto de actores, que se portem como tal.
Os actores deste país não têm grande espírito de organização, temem pelos seus tachinhos que nunca chegarão a caldeirão, são de uma serventia absurda que provoca este estado de canastronice infecta que somos obrigados a engolir! Belos os tempos em que os silêncios eram preenchidos. Agora nem com dez páginas de diálogo passa uma emoção que seja!! E depois são todos tão naturais!! O que é preciso é ser natural! É tudo tão natural, tão natural, que só falta porem o dedo no nariz!! Por favor ensinem estes pseudos o que é ser natural em teatro e em televisão! Para estes iluminados é de um grande profissionalismo que se diga que a mãe morreu atirada para o rio, atada a uma pedra, depois de ser violada e esquartejada, da mesma forma com que se pede um bife com batatas fritas ao balcão da tasca! É tão triste!
É triste que os actores estejam no desemprego, é triste que estes miúdos achem que são actores, é triste que os convençam que são actores, é triste que não tenham sequer formação, é triste que sejam explorados, é triste que lhes dêem um pontapé no backside depois de os iludirem, é triste que sejam triturados como ossinhos para margarina, é triste que a produção nacional (não toda felizmente!!) seja de uma falta de qualidade absurda, é triste que ninguém reclame, é triste que os actores não se organizem, é triste que as televisões barrem as portas aos actores que sem contrato de exclusividade circulam para trabalhar de estação em estação para ganharem a vida, é triste que os actores...eu repito...ACTORES, não tenham brio na sua profissão para lutarem por ela e se deixem engolir por um sistema hediondo, do qual todos reclamam, mas no qual todos se deixam ir!
Ser actor é fácil!! É só um concurso televisivo e já está!! É só pedir! É só ficar na fila do casting adorado! É só dizer que desde pequenino se tem muito jeito! Ora!!! Eu também tenho muito jeito para cortar e nem por isso estou num hospital de bisturi na mão! Tenham dó! Que raio de profissão é esta onde não é preciso nada a não ser jeitinho?? Se um médico fizer um terço das asneiras que eu vejo estas criaturas fazerem em cima das tábuas e na televisão...(que nem sei se já repararam que eles agora fazem espectáculos de teatro baseados nas novelas!! É que o produto é tão bom que vale a pena!!)...era no mínimo expulso da ordem, a direcção do hospital demitia-se e teriamos escândalo garantido na comunicação social por um bom par de semanas!!
O melhor meus darlings, é não estrebucharem tanto e fazerem mais...caso ainda achem que valeu a pena ir para escola aprender a ser actor, caso ainda achem que os anos de trabalho que têm vos ensinou alguma coisa, caso ainda achem que ser actor é apenas para quem realmente pode e não para quem quer!
Morta por dentro, mas de pé como as árvores!!
Acenos da varanda central,
Viscondessa da Porcalhota

Thursday, May 05, 2005

ERa, não ERa?!


Pois ERa! Posted by Hello
Mas, não é!! Lamentamos imenso, mas assim com esta graça só nas séries ou nas cadernetas de cromos!! Era destacá-los a todos pelo picotado e fazer colagem nos nossos hospitais!
Eu até acho que as pessoas ficam bem de bata branca, ou verde....mas verdes ficamos todos nós nestas urgências de hospital fora de mão!
Por acaso eu gosto imenso de ser etiquetada na urgência! Nada que chegue a uma etiqueta! O preciosismo da triagem entre a bolinha autocolante verde e a laranja, o quadro que indica que se formos vermelho ficamos onze horas à espera, e se formos amarelo ficamos apenas nove! Pelo menos não nos podemos queixar de falta de orientação de cor!
Os nossos amigos espanhóis copiaram este ER e chamaram-lhe Hospital Central. Eu é que centralizava aquilo tudo enquanto do diabo esfrega um olho!! E copiaram muito bem, adaptaram muito bem à sua realidade e está ali um Dallas hospitalar de se tirar o chapéu! E como chapéus há muitos, para palermas ficamos nós, que nem sabemos apreciar a limpeza com que aqueles médicos dão as notícias más aos acompanhantes dos doentes! Eu fiquei pasma com aquela Laurita de porcelana plástica, que depois de há três ou quatro episódios se ter gabado de ter tido aulas para dar más notícias, se enfiou entre um bidè e uma sanita, fazia um som de choradeira que só me lembrava os moços camarários que cortam a relva aqui no jardim do burgo em frente ao meu palácio da Reboleira, e ninguém a tirava dali!!
Depois nunca morre ninguém... pelo menos adoçam-nos a ficção! Mas aquilo ontem parecia o Amadora/Sintra...foi copy paste servido com requintes de malvadez! Morrem cinco doentes em meia hora, fica um fígado por transplantar porque o que morreu para fazer a doação já morreu tarde e ainda por cima não havia ninguém a quem dar notícias más, porque os cinco que bateram a bota eram todos trapezistas espanhóis com nome artístico italiano e eram da mesma família!
Percebem agora porque é que há tantas empresas que não querem famílias inteiras a trabalhar lá dentro??! Só neste país não tombam do trapézio estes iluminados que gerem a saúde!!
Também vos digo, se eu fosse médica nos nossos hospitais acho que acabava a expirar éter diáriamente! Deve ser por excesso inspiração diária que os nossos doctors se pavoneiam pelos corredores com ar tão superior, que se esquecem que os infectos (que somos nós!!) esquecidos nas salas de espera e nas macas corredor fora, não são os cadáveres onde eles praticavam, nem os moldes de plástico com legenda aplicada para estudar o nome das coisas!! Querido pai, querido filho..venham os quatrocentos mil reis das tias e desfibrilhem esse cérebro, façam a prova aqui ao lado e olhem lá para as pessoas como pessoas que são! Ser médico é um dom, mas para dom temos Dinis, que plantou o pinhal e ainda fazia cantigas de amigo...tinha sensibilidade, que para a época é coisa rara!! Vejam lá se começam a ser um bocadinho menos técnicos na maneira como lidam com as pessoas, que nós aqui fora não somos aula prática de resistência a toda a emocionalidade nem somos muro de embate de tractores russos desgovernados!
Por tudo isto, mais vale ficar doente no sofá apreciando Cloney e seus muchachos, ou Vilches destilando seu charme engarrafado em mau feitio, e desentupam as urgências! Sensibilidade de ficção ao poder, é asséptico e não há contacto...nem virtual!
Dois escudos por cada bicho?! Então vamos já ver a lontra...
Acenos da varanda central
Viscondessa da Porcalhota

Wednesday, May 04, 2005

Infância Azul!!


LÁ NUM PAÍS CHEIO DE COR...

...nasceu um dia uma abelha!
Mas que nostalgia é esta que assola repentinamente esta geração dos 30?? Vamos lá miúdos, façamos a coisa como deve de ser!!
Não aguento mais ver os trintões a sonhar com as bicicletas do Verão Azul, o meu próprio telemóvel assobia a melodia e quando isso acontece em público há sempre alguém que pergunta onde arranjei ou esboça um sorriso ou como se fosse uma coisa do outro mundo exclamam: Eh!!! Essa múúúúsiiiiiiicaaaaaaaaa!
O D'artacão passa nas discotecas, a Abelha Maia também... tão novos e já nestas vidas, que aconteceu???!!! Oh! Mundo cruel!! Arrancaram os nossos meninos das televisões para os deixarem à deriva em antros de fumo e álcool e levaram os dreads todos para os horários da manhã e da tarde!! Fazia mais sentido encontrar o Dragonball numa disconight, em versão cabelo verde pontiagudo e roupa oriental, tão fashion nos tempos que correm! Mas a nossa Abelha Maia?? Tadinha!! E nada de ordinarices, pelo amor da Abelha! O Calimero nunca fez nada disso!!! Ou fez?.... Pelo menos não tem ido à discoteca...esperará por ela à porta? Algum segurança lhe terá partido o resto da casca?
Onde é que já se viu... estes adultos de trinta anos têm saudades do Tom Sawyer e do índio Jo! Tudo a correr parado num cenário que andava!! No outro dia até me falaram no chappi-chapeau!! Aí sim é que tive umas saudades... até me cheirou a sopa de feijão! Mas será que esta geração enlouqueceu?? Estes miúdos não crescem??
NÃO!!!
Recusamos crescer e fazer parte de um mundo sem magia!! Vivam os pátios das cantigas, os pais tiranos e as vizinhas do lado!! Vivam todos os bonecos que não fizeram de nós uns debilóides, que nos ensinaram coisas para além de bombardear tudo e falar aos gritos e transformar o corpo numa máquina ameaçadora que à mínima contrariedade rebenta com tudo à sua volta e enche de porrada as trombas de quem se lhe atravessar à frente! Está bem, o Marco era uma tragédia sem fim, que era!! Quem é que se lembra daquele episódio maravilha em que o pobre garoto, que já tinha ficado sem a mãezinha, porque eram pobres e a senhora teve que dar de frosques para a Argentina (ainda hoje o Marco planta canabis na varanda), e o irmão tinha saido de casa para ir trabalhar nos combóios e o miúdo foi lavar vasilhame numa taberna onde todos o tratavam como se ele fosse um desperdício mecânico (desculpem lá que isto tem que ser desprovido de pontuação, que é mesmo para faltar o ar!!), e davam-lhe meia côdea e duas moedas pretas por um trabalho diário de doze horas sem segurança social, e então lá segue Marquito, na sua viagem em direcção à Argentina, enfia-se num barco e é apanhado e tem que esfregar o convés e sonha com o macaquinho que ainda era mais pobre que ele e se não fosse o realejo estaria encarcerado num jardim zoológico qualquer e até talvez comesse melhor, mas ninguém pensou nisso para não facilitar a história, e é então que chega à Argentina e tem que atravessar sozinho as Pampas!! As Pampas!!! Irra que isto é pior que o Dallas! E lá vai Marco, seguindo por ali fora e vem um nevão daqueles de criar bicho (lei de Murphy...quando tudo corre mal, só pode correr pior!), e o miúdo a correr e a levar com a neve na cara e os sapatos a romper e a comida a acabar e de repente!!! Bum!! Não é que ele tropeça com o sapato roto numa pedra e rasga a unha do dedão?!! Ainda hoje me arrepio! E a unha ficou toda levantada e o miúdo suava e finalmente lá passa uma carroça e ele grita para pedir boleia, mas claro, como uma desgraça nunca vem só, a carroça nem pára e ainda lhe atira um monte de neve para cima!!(ainda hoje estou convencida que aquilo foi droga a mais, porque a probabilidade de passar uma carroça no meio daquele nevão no meio das Pampas, é duvidosa!!) Logo a seguir é de noite e o puto está com uma crise de hipotermia e uma unha arrancada e sem comida e a delirar...até que debaixo de uma árvore ele arranja um pauzinho e lembra-se que tem uma carteira de fósforos no bolso (aleluia!!), mas quando abre a carteira de fósforos....só há UM!! Claro que o vento começou logo a soprar, senão aquilo nem tinha graça, e o miúdo tenta acender o fósforo e quando está quase a chegar ao pauzinho....puff! rajada de vento e lá vai o lume com os porcos!! Então ele chora...e logo a seguir desmaia! E o episódio acabou aqui.... Como é que querem que os trintões não tenham saudades da Abelha Maia, do Tom Sawyer, do D'Artacão, do Verão Azul, da Heidi, do querido Vasco Granja, da série Era Uma Vez O Homem, e o Espaço e o Corpo Humano.... queriam que tivéssemos saudades de quê? De um nevão nas Pampas?! Eu por acaso até tenho...
Vamos lá tratar desta nostalgia!! Passem na FNAC e comprem uns dvds da Abelha Maia ou do que mais gostarem, que agora está tudo em reposição revivalista, sem a desculpa que é para os filhos, comprem sumol e façam torradas com manteiga e açucar ou uma carcaça com manteiga e marmelada e esqueçam-se do tempo por um bocado! Divirtam-se mais e nostalgiem menos...Pensem que daqui a quinze ou vinte anos será maravilhoso que os nossos filhos tenham saudades da infância e que consigam sentar-se no sofá a ver os Transformers e a comerem chocapics!! Cruzes credo! Mas é assim mesmo, não há gerações perfeitas!!
A propósito, já viram o novo dvd do Carrocel Mágico?? Anita, a vaca Rosália, o caracol Ambrósio, o cão Franjinhas e claro...TORNICOTIM! TORNICOTÃO! Saltem!!!
Acenos da varanda central,
Viscondessa da Porcalhota

Posted by Hello

Sunday, May 01, 2005

Cartas de Amor...

Imaginem que não fazem parte dos padrões ditos normais que a sociedade nos impõe.
Imaginem que arrastam as palavras, que não conseguem escrever letras perfeitas, que não conseguem articular um discurso mais elaborado que o de uma criança de cinco anos.
Imaginem que são espontâneos, que não têm o censor activado e que dizem tudo o que lhes passa pela cabeça, sem quaisquer descernimentos, que as emoções são vividas livremente, que reagem às coisas e já está!
Imaginem que a vossa diferença é suficiente para que a sociedade lhe atribua o rótulo de deficiência.
Agora, que estão em pleno auge da vossa imaginação, imaginem que saem à noite, que olham para uma miúda e se apaixonam!
Simples? Agora vamos ver a mesma história, mas com dois pontos de vista.
Ponto de vista destes Normais
Ela conheceu-o apenas porque os amigos queriam gozar com ela. O miúdo em questão foi-lhe apresentado exactamente porque era meio lerdo...parado, tonto, meio atrasado (isto da palavra MEIO é a cereja no topo do bolo!!)... entre eles era mais conhecido por... def!
É sempre bom perceber que isto não acontece apenas no reino da crueldade que normalmente é atribuido às crianças....mas tendo em consideração que no tempo de D. João IV uma pessoa de idade tinha cerca de 35 anos, eu imagino que hoje uma pessoa de 30 esteja ainda a curtir a primeira infância e por isso haja ainda tanta desculpa para a crueldade.(para os que não percebem, estou a ser irónica hein!!) Mas adiante... Eles foram apresentados e todos lhe disseram que ela seria a mulher ideal para ele. Ela ria-se juntamente com todos os outros, num misto de gozo e encabulamento...
A noite acabou, ele foi embora e os outros ficaram a rir da sua cara no momento em que a conheceu. Ela dizia que tinha medo e fazia caretas, e imitava-o, troçando dele e de todo o seu comportamento.
No dia seguinte ele apareceu, ela fez aquele ar de quem nunca o tinha visto, escondeu-se dele e tentou escapar-lhe várias vezes. Ele, persistente e sem nunca entender que ela o evitava, olhava-a sempre com um ar sorridente. Finalmente encheu-se de coragem e disse-lhe que tinha uma coisa para ela, e desapareceu.
Ela foi ter com os amigos e mais uma vez todos gozaram o prato! Ele tinha vindo atrás dela, como se ela alguma vez lhe desse bola!
Ele voltou a aproximar-se dela e entregou-lhe uma carta. Ela correu até aos outros e abriram a carta, leram-na e zombaram dela a cada palavra escrita com dificuldade, a cada letra trémula de quem aprendeu a escrever ontem, a cada declaração que ele lhe fazia. A carta acabou deitada a um canto e ela dizia alto o quão estúpido o achava por ter ousado em escrever-lhe uma carta de amor.
Ponto de vista deste considerado Não normal
Ele saíu de casa para se ir divertir um pouco. De repente, no meio do barulho e das luzes, de gargalhadas e gente aos pulos, ele é apresentado a uma rapariga.
Ele está no meio de risos, dizem-lhe que ela seria a mulher ideal para ele. Ele sorri, ela também. Ele sorria um feliz longínquo que ela jamais sorrirá, longe da maldade a que tudo aquilo cheirava, longe dos risos cruéis e apenas contente por estar num local público como toda a gente, por estar a ser apresentado a uma rapariga, por se estar a sentir integrado. A noite dele foi feliz, porque se divertiu e conheceu uma menina de sorriso bonito.
Pegou num papel e com toda a arte desenhou palavras de amor. Numa caligrafia de menino que mal sabe escrever ( e sabe-se lá com que esforço para que tudo ficasse perfeito), disse-lhe que a amava, que queria ficar com ela para sempre até ao casamento. Perguntava-lhe se podia ter a morada e o telefone, para lhe escrever e telefonar para sempre. E dizia-lhe que estava feliz por a ter conhecido e porque o Benfica ia ganhar o campeonato. Ele falava do Benfica e dos sentimentos que tinha por ela com a maior inocência do mundo e no fim assinou a carta com o nome completo e dizia que aguardava resposta. Selou-a num envelope onde desenhou um coração e escreveu o nome dela e o seu.
Nessa noite voltou para lhe entregar a carta. Viu-a...encheu-se de coragem e quase ao fim da noite entregou-lhe aquela declaração de amor com pedido de resposta. Sorriu quando ela a recebeu e foi logo embora, na esperança que ela tenha uma carta para ele ou que lhe dê a morada para ele escrever mais.
Esta história aconteceu, feliz e infelizmente.
Imaginem só que se ainda fossemos capazes de pegar numa caneta e num papel e que se ainda escrevessemos cartas de amor, talvez pudéssemos ser menos cruéis....
Acenos da varanda central,
Viscondessa da Porcalhota