Wednesday, December 28, 2005

Com a Barba de Molho!



Não! O Natal não foi português! Foi mais do que isso, foi de profunda raíz, longe do bacalhau e do perú, mas com os talheres afundados na chanfana de cabra! Já para não falar da bela filhós, do arroz doce, da sopita de couves e todas as outras iguarias que nos empanturram o físico e o espírito! Pergunto-me como conseguimos nós, animais de um estômago só, comer desalmadamente (quererá isto dizer sem alma?!... pois por mim modifico...aqui vai): comer ALMADAMENTE durante dias, sem parar?! Não se pode! Nem a catarata do Niagara jorra tanta água como a comida que nos passa no estreito da loucura nestes dias festivos! Ora então, Bom Natal!
E assim lá fui a Toronto e voltei, naquelas choças a que chamam aviões e em que levamos o farnel porque não há cá hospedeira que nos hospede! Assim que cheguei a NY vi o Pai Natal com as barbas para baixo para fumar um cigarro e sintonizei logo a antena para estas atrocidades risíveis! Lá que fumasse ainda é como o outro, que os pulmões são dele, mas não era preciso tirar o barbum porque o imaginário é nosso e não é para estragar! Onde estão os clássicos?! E depois eram mais que muitos! Parecia greve no reino encantado, de barriganas espetadinis, mascando pastilha elástica e usando algum vernáculo. Oh mundo cruel! Aposto que ao fim do dia a criançada nem se pode chegar ao nylon fumado! Pai Natal vai acabar o dia com a barba de molho em sabão de Marselha para desintoxicar o desleixo!!! Teve o detergente sujo do capitalismo a ideia peregrina de inventar um gordalhufo vestido de vermelho e belo barbedo branco, para agora se achincalhar desta maneira preversa a imagem do velhote! Vá que o homem fumasse em casa, com os gnomos e com os duendes.. vá que experimentasse a sua ervita com as renas ou que entalasse a mãozinha no trenó e tivesse que dar uso ao vernáculo ainda no seu quintal!!! Mas na rua não!!!! Qualquer dia estamos a ver o Pai Natal a ler a playboy ou a montar granadas de mão embrulhadas em celofane! Haja decoro, pelo amor das renas!
Eu odeio celofane!

Acenos da Varanda Central,

Viscondessa da Porcalhota

Thursday, December 22, 2005

No Reino dos Alces!


AH!!! Que maravilha é sair dos States em direcção ao Canadá! Tudo branco!!!
Branco como o pó que os senhores das fronteiras devem inalar diáriamente para despir e descalçar os passageiros carregados de tralha natalícia!
NY está em greve de transportes! Nao se pense que é uma greve como as nossas, onde imperam os transportes alternativos para chegar mais tarde ao trabalho, mas enfim...chegar! Não! Aqui não há pão para malucos! Com eles não! É vê-los todos que nem baratas tontas a chamarem taxis, a irem a pé, a enfiarem-se no trânsito enlouquecedor das quatro horas da manhã! Sim!! Isso mesmo que acabais de lêr!! QUATRO DA MANHÃ!!! As filas nem se podem. Irra que até são duas. Os cabs amarelos só levam quatro pessoas de cada vez porque não dá para fazer viagens com esta greve de um lado para o outro só para transportar uma alma penada que quer trabalhar! Pensam que eles se baldam ao trabalho? Isso é que era doce, que aqui são do bom tempo! Tudo a horas que é por causa das tosses! E que tosses! É tanta a neve que transformada em tinta dava para escrever tudo de novo desde da invenção da escrita!
Greve de dias infindáveis, não se sabe quando acaba e NY está ao rubro! Jingle bell jingle bell, lá se vai o natal! Nem o Santa se atreve a aterrar na cidade... já comprou o passe e as exportações de presentes não dão tostões que lhe permitam fazer a distribuição de taxi, e a pé está quieto! As formigas andam doidas no reino da Maçã!
A Viscondessa pirou-se! Deu de frosques para o norte e atolou-se em neve no reino dos alces! Toronto é pacata! Estamos com neve até ao pescoço, Niagara nem se vê! Congelou! Mas para aqui chegar foi um belo número de circo!
América, querida América! A saída do país parece a saída do hipermercado de Chelas! É ver os seguranças todos a abrirem as valises, a vasculharem as nossas meias e cuecas, não vá ser uma bazuca exportada por engano no elástico do fio dental! E depois, quando já nos despiram vinte vezes e vasculharam as malas de mão e o saco plástico com a tupperware do free shop, mandam-nos descalçar! Nem um tapetinho para pôr os presuntinis! Já nem pedia carpete vermelha, mas um trapito para aconchegar o pézito enquanto verificam se trazemos minas nas solas dos sapatos, não era mal pensado! Já para não falar na falta de higiéne! Valha-me o Tio Sam! Chegamos ao aéroporto mortos e com sono depois de atravessar a Maçã em greve e ainda apanhamos uma carrada de pé de atleta! Levaram-me dois isqueiros que trazia no bolso do casaco... acho que não se pode levar isqueirinhos no avião, não vamos nós pegar fogo a tudo! Mas depois deixaram seguir outros dois dentro da carteira, porque o lixo que lá trago dentro é tanto que eles devem ter perdido a coragem! Serão estúpidos de todo ou o exame aos sapatos de milhares de pessoas adormece-lhes a ervilha enlatada a que chamam cérebro?
Pelo menos tenho um certo orgulho na forma como fazem greve... parou tudo e parou mesmo! A cidade está caótica e não vai deixar de estar enquanto as reivindicações do povo que move o transporte público não forem ouvidas, discutidas e firmado um qualquer acordo! Ah valentes!
Vou cofiar os bigodes da Mimi enaquanto espero que as broas saiam do forno! Que paz que é este Canadá!
Acenos da Varanda Central,
Viscondessa da Porcalhota

Tuesday, December 13, 2005

Baudelaire, o gato




Minhau, minhau, minhau, minhau, minhau... e ronronronronronron. Festinhas, beijinhos e sorrisos grandes. Noites quentinhas, companhia, tropelias. Meigo, bonito, gorducho e cheio de pêlo. Nariz rosado, olhos lindos.
Meu gato do coração, mil vezes minhau por teres partilhado a tua vida comigo.
Até sempre... gosto muito de ti e fazes-me falta. Caça muitos passarinhos aí no céu dos gatos e diverte-te, como só tu te sabias divertir!
Ao Baudelaire,
Todos os Acenos da Varanda Central,
Viscondessa da Porcalhota

Friday, December 09, 2005

O Metro das Emoções

Darlings da minha vida, o metro em NYC é uma espécie de Índia super populada de gente que sobe e desce pela direita, que cospe para o chão, que não se atreve a acender um cigarro, que segura as portas a quem corre atrasado... é um mar de personagens, de gente diferente, tão diferente! Irra que é uma lavagem para o globo ocular!!! É um esgoto onde as baratas se arrastam de carril em carril, onde a água corre e os anúncios nos falam dos credênciados que assinam as folhas de serviço, garantindo-nos que estamos seguros, que andar de metro é a melhor opção.
É no meio deste caos semi ordenado, entre cores humanas que desfilam nos mais variados tamanhos e onde o bafo escaldante do aquecedor central nos faz despir o carrego que nos cobre do frio de neve lá fora, que encontramos o chinês que toca Zheng (Harpa de colo) e cantarola numa pobre voz..ali mesmo na 2nd Ave, ele enrola-nos os ouvidos no dedilhar enquanto a gare se apinha de centenas de formigas à espera do combóio do nunca, atrasado, decrépito e mal cheiroso.
Na entrada de cada combóio há sempre a certeza de uma lírica, de um mexicano de guitarra em punho e siga lo Ciellito Lindo, da cadeira de rodas que arrasta o ex combatente que arranha com uma corda gasta e um abanão de lata com dois tostões furados, um ritmo triste de algo que se assemelha a uma canção que nunca soube cantar. O miúdo do RAP entra e abafa, dá mortais entre varões no ritmo do tijolo, grotesco, brilhante, divino! E as portas abrem-se na cantilena daquela mulher que grita a ira terrena e o castigo divino em frases feitas no mundo dela, cortantes, cruéis, loucas, no limbo entre o que não sabemos e o que nunca saberemos.
Abrem-se as portas e ali mesmo, na 49/50 st com a 6th Ave, todas as tardes, todas as noites, toca um violino de duas cordas...miraculoso, um espanto de sentidos, um deslumbre, um travão que se puxa na pressa tresloucada das formigas.
Estes momentos e outros, são um presente que tive, um presente de nada, nada é o espaço que se preenche de memórias, de sons, de imagens...
Meu partilhante de casa, esbarrou com um mendigo entre flautas e violinos... ele gritava com as pessoas..What's up? Porque é que não sorriem? Olhou-o nos olhos, desafiou-o esquecendo a música e gritou-lhe nas ventas!!! PORQUE NÃO SORRIS?!! Confrontado sorriu. Andrajoso o homem seguiu dizendo-lhe que as coisas boas estavam por todo o lado e que valia a pena sorrir apenas pela graça de estar vivo.
The Gift Of Nothing...e o nada é tudo!
Como diria, cantaria, o Básco Képa Junkera, é uma méscla de chuva numa manhã de sol...
Acenos da Varanda Central,
Viscondessa da Porcalhota

Tuesday, December 06, 2005

Cai Neve em Nova Iorque...


...Faz sol no meu país. Cid forever!

Descobri que o Cid, afinal, não é só um mito! Desde que comuniquei publicamente que tinha caído o primeiro nevão aqui na terra do Tio Sam, que não paro de receber a letra, a música e até fotos, deste homem que se deixou fotografar todo nú com o cd de ouro tapando o jarrão ming!
É bonito ver que este homem tem fãs! Tem fãs na minha geração, na da minha mãe, na da minha irmã mais nova e até na dos meus sobrinhos! Eles sabem que como o macaco gosta de banana cai neve em Nova Iorque e por isso na cabana junto à praia ontem eras a menina mais alegre e mais bonita que eu já conheci. Eles sabem que adieu, adieu, auf Wiedersehen, goodbye foram as últimas palavras proferidas por El Rei D. Sebastião quando deu de frosques para Alcácer Quibir, deixando para trás o seu amigo a amar como Jesus amou!
E sim, é verdade... CAI NEVE EM NOVA IORQUE!!!!
Acenos da Varanda Central,
Viscondessa da Porcalhota