Darlings da minha vida, o metro em NYC é uma espécie de Índia super populada de gente que sobe e desce pela direita, que cospe para o chão, que não se atreve a acender um cigarro, que segura as portas a quem corre atrasado... é um mar de personagens, de gente diferente, tão diferente! Irra que é uma lavagem para o globo ocular!!! É um esgoto onde as baratas se arrastam de carril em carril, onde a água corre e os anúncios nos falam dos credênciados que assinam as folhas de serviço, garantindo-nos que estamos seguros, que andar de metro é a melhor opção.
É no meio deste caos semi ordenado, entre cores humanas que desfilam nos mais variados tamanhos e onde o bafo escaldante do aquecedor central nos faz despir o carrego que nos cobre do frio de neve lá fora, que encontramos o chinês que toca Zheng (Harpa de colo) e cantarola numa pobre voz..ali mesmo na 2nd Ave, ele enrola-nos os ouvidos no dedilhar enquanto a gare se apinha de centenas de formigas à espera do combóio do nunca, atrasado, decrépito e mal cheiroso.
Na entrada de cada combóio há sempre a certeza de uma lírica, de um mexicano de guitarra em punho e siga lo Ciellito Lindo, da cadeira de rodas que arrasta o ex combatente que arranha com uma corda gasta e um abanão de lata com dois tostões furados, um ritmo triste de algo que se assemelha a uma canção que nunca soube cantar. O miúdo do RAP entra e abafa, dá mortais entre varões no ritmo do tijolo, grotesco, brilhante, divino! E as portas abrem-se na cantilena daquela mulher que grita a ira terrena e o castigo divino em frases feitas no mundo dela, cortantes, cruéis, loucas, no limbo entre o que não sabemos e o que nunca saberemos.
Abrem-se as portas e ali mesmo, na 49/50 st com a 6th Ave, todas as tardes, todas as noites, toca um violino de duas cordas...miraculoso, um espanto de sentidos, um deslumbre, um travão que se puxa na pressa tresloucada das formigas.
Estes momentos e outros, são um presente que tive, um presente de nada, nada é o espaço que se preenche de memórias, de sons, de imagens...
Meu partilhante de casa, esbarrou com um mendigo entre flautas e violinos... ele gritava com as pessoas..What's up? Porque é que não sorriem? Olhou-o nos olhos, desafiou-o esquecendo a música e gritou-lhe nas ventas!!! PORQUE NÃO SORRIS?!! Confrontado sorriu. Andrajoso o homem seguiu dizendo-lhe que as coisas boas estavam por todo o lado e que valia a pena sorrir apenas pela graça de estar vivo.
The Gift Of Nothing...e o nada é tudo!
Como diria, cantaria, o Básco Képa Junkera, é uma méscla de chuva numa manhã de sol...
Acenos da Varanda Central,
Viscondessa da Porcalhota